08. O esper de Narshe


Tina, Banon e Edgar continuavam na jangada sobre o rio Lethe que desaguava em um lago próximo a Narshe.
A partir dali, rumaram a pé até a cidade gelada.
Ao entrarem em Narshe os guardas da cidade reconheceram Tina.
– Não foi você quem acompanhou os soldados do império com armaduras, matando diversas pessoas?
Banon interferiu.
– Um momento!
O guarda não deu ouvidos ao velho e o empurrou agressivamente, derrubando-o no chão.
– Esperem! Eu sou o rei de Figaro!
– Mentiroso!
Edgar teve o mesmo tratamento de Banon.
Fora dos muros da cidade, Tina agachou-se perto deles.
– Não vale a pena... – concluiu Banon, agachando-se e pousando sua mão no ombro da moça.
– Eles nem nos ouvem. – completou Edgar.
– A culpa é minha - completou Tina inconsoláveis.
Edgar sacudiu a cabeça.
Ficaram pensativos por um tempo, quando Tina se levantou com um semblante mais leve.
– Me acompanhem.
Ela levou-os a oeste da entrada da cidade, até a encosta da montanha.
– Quando Locke me salvou, saímos por aqui.
– Se eu o conheço bem, deve haver alguma passagem secreta por aqui – disse Edgar procurando algum dispositivo na rocha. – Encontrei!
Edgar empurrou uma pedra que estava um pouco mais saliente e, com um estrondo uma passagem se abriu.
Ao seguirem pelo túnel Tina se lembrava de vários lugares onde passou quando fugia dos guardas de Narshe. Parecia que havia passado tanto tempo, tanta coisa havia acontecido desde então.
Ao saírem das minas, Edgar os guiou até uma casa já conhecida por Tina, onde um homem os recebeu com um sorriso.
– Banon! Edgar! – ao olhar para a moça, seu rosto se iluminou. – Tina!
O homem guiou-os para dentro de casa.
– Arvis, o que houve? – perguntou Banon.
– A cidade assumiu uma posição neutra. Não consegui fazer com que se juntassem aos restauradores. Mas e vocês? O que vieram fazer aqui?
– Antes de tudo, como está a população de Narshe? – perguntou o rei preocupado.
– Um pouco assustados desde que descobriram o esper.
– Acho que esta menina é nossa única chance de conversarmos com o esper – disse Banon, aproximando-se da moça.
– Como Tina pode nos ajudar?
– O esper pode nos ajudar... – um tom sério tomou conta de sua voz – ...ou nos condenar.

Permaneceram discutindo o que fariam e decidiram convocar o ancião da cidade para uma reunião no dia seguinte. Tentariam convencê-lo a apoiar os restauradores.

*****

– Compreendo perfeitamente, mas como podemos apoiar uma chacina? – o ancião perguntou com um tom sério.
– Ninguém falou em chacinas! – argumentou Arvis.
Banon sacudiu a cabeça.
– Ele tem razão Arvis.
– Como?
– Por causa desta atitude, todos nós seremos chacinados. O imperador Gestahl está num frenesi para conquistar o mundo e, se ele puser as mão no esper que está aqui, usará os poderes dele para alimentar as armaduras. Se isso acontecer, esperem uma guerra a nível mundial... tudo será destruído.
– A guerra dos espers... – disse o ancião com tom grave.
– O que? – perguntou um dos guardas que o acompanhava. – A guerra que destruiu tudo há mil anos atrás?
A porta da frente se abriu.
– Mano!
Nash entrou acompanhado de Cayenne e Gau.
Um sorriso preencheu o rosto do rei.
– Nash! Está vivo!
Nash assentiu.
– Quem são esses dois?
– Eu sou Cayenne – disse fazendo reverência –, defensor do rei e do castelo de Doma.
– Gau, Gau!
– O império matou toda a população de Doma – explicou Nash.
– O general Kefka envenenara a água que abastecia o castelo – completou Cayenne.
– Bárbaros! – disse o ancião indignado.
– Veem o que acontece aos que se opõem ao império? – perguntou Banon ao ancião – Eles destoem.
– Doma apoiava os restauradores?
– Sim – respondeu Banon.
– Então se fizermos o mesmo o que vai nos acontecer? Também seremos destruídos? Entendem porque é que desejo que Narshe continue neutra?
– Que idiotice! – Locke entrava pela porta acompanhado da general. – Neutra ou não, o império já marcha a caminho de Narshe!
Todos na sala ficaram assustados com a notícia.
– O que? – perguntou Edgar.
– Locke, onde ouviu isso? – perguntou Banon.
– Apresento-vos uma ex-general do império: Celes.
– Sabia que já a tinha visto! – disse Cayenne nervoso. – Senhor Gau, afaste-se! – disse ao pequeno que estava a sua frente.
– És a general Celes! – continuou após Gau sair assustado de sua frente. – Ela incendiou Maranda! Ela vai-nos matar todos! Afastai-vos!
– Pare! – Locke se pôs entre os dois. – A Celes se juntou a nós!
– Impossível...
– E eu prometi que a protegeria, portanto só vai tocar nela por cima do meu cadáver!
– Locke – disse Edgar, mais para si mesmo do que para os ocupantes da sala –, ainda não conseguiu superar aquilo?
– Eu também era uma soldado do império – interveio Tina, que se solidarizava com a ex-general.
– O que? – Cayenne estava indignado.
– O império é maléfico, mas nem todas as pessoas que fazem parte dele são – explicou Edgar.
– Cayenne – Nash colocou a mão no ombro do guerreiro –, estamos todos do mesmo lado, não vale a pena brigarmos.
– Emergência! – um guarda irrompeu sala adentro, silenciando a todos. – O império se aproxima!

*****

Se aproximando de Narshe, Kefka liderava sua tropa composta por dezenas de soldados e algumas armaduras Magitek.
– Não me importa como! Eu quero o esper!
– Mas senhor há civis na cidade.
– Matem todos!
– Mas Narshe é neutra!
– Idiota! Não entenderam ainda? Quero que matem qualquer um que se meter no meu caminho!

*****

– Não há saída, temos que lutar! – concluiu o Ancião, recebendo a atenção de todos que discutiam sobre o comunicado do guarda da cidade.
– Eles vieram buscar o esper – disse Banon.
– Nós o levamos para as montanhas – informou o guarda que acompanhava o ancião.
– Então é pra lá que vamos! – comandou Edgar.

Rumaram todos para as montanhas, localizadas as costas da cidade, para se assegurar de que o império não alcançasse o esper.

A caminho, Edgar conversava com Celes.
– Locke tem um passado complicado, não julgue que ele está apaixonado por você – disse o jovem rei para Celes, enquanto subiam.
– Eu sou uma guerreira, não uma mulher a procura de um homem! – retrucou Celes.
– Hã... eu preciso ir na frente para ver como está o caminho – disse retirando-se, arrependido de ter puxado assunto.
Tina ia logo à frente, então Celes se aproximou.
– Então também pode usar magia? Não é um dom magnífico?
– Você... também consegue usar magia?
– Quando nasci, fui infundida com magia e criada como uma guerreira rúnica.
– Já... amou alguém?
– O que quer dizer? – perguntou Celes confusa.
Tina sacudiu a cabeça e prosseguiu.
Celes ficou pensativa, ao fim da fila.
Cayenne diminuiu o passo até que Celes o alcançou.
– Não penses que confio em ti.
– Ainda bem, não me importo nem um pouco – respondeu rispidamente.
Seguiram até alcançarem um local onde o caminho se abria e mais a frente se estreitava um pouco antes do local onde o esper se encontrava e aguardaram.
– Vamos aguarda-los aqui – ordenou Edgar.

*****

Não demorou muito até que Kefka chegou com sua tropa. Gau rosnou ao ver aquelas máquinas enormes, e deu um passo para o lado se abrigando atrás de Nash.
– Que bom! Todos os restauradores juntos. Finalmente vou poder acabar com vocês de uma só vez! – disse em meio a sua gargalhada. – Vão! Matem esses vis insetos!
Mal terminou de falar, Cayenne partiu para o ataque e, sacando velozmente sua katana, desferiu um golpe poderoso derrubando um dos soldados. Rapidamente, partiu para o soldado ao lado que caiu como o primeiro. Seus olhos só viam Kefka.
A iniciativa de Cayenne surpreendeu a todos, império e restauradores.
Nash, vendo tudo aquilo, olhou para seus companheiros.
– Vamos pessoal! – deu um tapinha nas costas de Gau e partiu para o ataque.
A batalha teve início no topo das montanhas frias de Narshe. Os soldados imperiais marchavam vorazmente na direção do esper congelado, enquanto os restauradores tentavam pará-los a todo custo. Edgar e Tina permaneceram na retaguarda: ele com sua besta e ela focava suas bolas de fogo contra as armaduras Magitek, pois sabia o estrago que podiam causar a seus amigos. Celes usava sua magia para congelar os oponentes e Locke lançava mão de sua agilidade para derrubar os soldados. Nash tentava pará-los usando suas técnicas, Gau desferia os golpes que aprendeu observando as criaturas em Veldt e Cayenne, com sua katana, desferia golpes poderosos e, soldado após soldado, caiam enquanto se aproximava de Kefka.
Locke era rápido com suas adagas. Ao ver um soldado avançar em direção a Celes, que estava ocupada batalhando com outro soldado, rapidamente lançou uma de suas adagas na direção da garganta dele, porém antes dela alcançar seu alvo, o soldado foi derrubado por uma seta de Edgar.
– Exibido... – disse para si mesmo ao olhar para o rei, que retribuiu com um sorriso, enquanto carregava sua besta novamente.
Aproveitando a proximidade com uma armadura Magiteck, Nash desferiu diversos golpes contra ela, mas, por mais poderosos e insistentes, não causavam nada à armadura. Em sua concentração, não notou um soldado que se aproximava velozmente para lhe cravar a espada em suas costas, que, somente não foi possível graças a Gau que saltara sobre as costas do soldado e lhe mordeu a orelha. Nash, ouvindo o grito do homem, virou rapidamente e lhe nocauteou. Gau saltou em direção a armadura que se virava para atacar Nash, e, vencendo seu pavor da gigante máquina, grudou em seu piloto golpeando-o até desacorda-lo.
Finalmente Cayenne alcançou o general do império, e guardou sua espada na bainha.
Se encararam por um momento.
– Ficará parado por quanto tempo, capitão de Doma? – disse Kefka com um sorriso sádico.
Cayenne partiu em grande velocidade e, aproveitando o saque de sua espada, desferiu um forte golpe contra seu inimigo que foi defendido pelo general.
O som do choque das duas espadas ecoou pelas montanhas geladas.
– Desista Kefka! – gritou Banon. – Derrotamos seus homens, você já não pode nos deter sozinho!
– Talvez! Deixarei essa dúvida no ar! Vocês se arrependerão por isso!
Virando as costas, não deu oportunidade para Cayenne continuar a batalha.

Alguns estavam feridos e Tina tentou fazer o melhor curando-os com sua magia.
Ao curar Cayenne, o guerreiro, após uma inicial recusa, agradeceu, reconhecendo a bondade da moça.
– Foi por pouco – disse Edgar –, vamos ver o esper.

Ao chegarem lá o esper permanecia congelado.
– Será que ainda está vivo? – perguntou Cayenne.
– Nah! É impossível... – respondeu Nash – ...não é?
Tina se afastou.
– Tina! O que houve? – perguntou Locke.
O esper lançou um feixe de luz azul que derrubou Locke e chegou até Tina.
– Tina, está bem? O que está acontecendo? – perguntou Edgar preocupado. – Conte-nos!
A moça se agachou com o rosto tomado pela dor.
Crédito da Imagem: Dzoan
Uma forte onda de energia proveniente do esper, lançou todos ao chão.
Tina se aproximou da criatura congelada, enquanto o mesmo reagia à presença da moça.
– O que? O que estou sentindo? O que está acontecendo?
O esper brilhava.
– Por favor, diga-me! Quem eu sou? Quem?
– Tina! – gritou Edgar.
Mas a moça estava insensível a tudo que a rodeava.
– Um esper? – comentou Celes – Eu... sinto sua mente...
– Tina – disse Edgar. – Fique longe do esper.
Um raio preencheu o espaço entre o esper e a moça, parecia que ligava os dois.
Um grande clarão cegou a todos momentaneamente.
Os cabelos verdes da moça aos poucos tomaram uma coloração roxa, sua pele empalideceu, seus olhos ganharam um vermelho brilhante. Tina havia se transformado. Começou a levitar e tomou uma velocidade grande rumo ao céu. Todos a acompanhavam com os olhos até que se transformou em um brilho no horizonte.

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