07. O menino e o tesouro de Veldt
Saíram da floresta em silêncio.
Seguiram para noroeste, até alcançarem um penhasco
em frente a uma grande cascata.
Nash olhou para a cascata.
– Esta deve ser a Catarata de Baren.
– Ao sul fica Veldt – completou Cayenne – É um
lugar perigoso, repleto de criaturas selvagens.
– E temos o império atrás de nós.
– Se atravessarmos Veldt conseguimos chegar a
Mobliz, a leste.
– Fiz tudo o que tinha que fazer – Shadow quebrou o
silêncio.
Ao se afastar, Nash interrompeu.
– Shadow...
O companheiro taciturno olhou.
– Obrigado pela ajuda! Espero que um dia nos
encontremos novamente!
– Vos
agradeço – agradeceu Cayenne.
Então Shadow partiu seguido por Interceptor, seu
cão.
– O que faremos agora? – perguntou Cayenne.
Nash se afastou.
–Não há outra saída... – disse, se afastando
cabisbaixo.
Cayenne continuava olhando as quedas e as terras
abaixo. Quando se virou, viu Nash com um sorriso no rosto, deu dois passos para
trás assustado.
– Principe
Na...
Nash correu em sua direção, segurou o braço de Cayenne
e saltou, precipício abaixo, em direção ao fosso, onde as águas da cascata
rompiam com violência.
O grito de Cayenne foi abafado pelo forte som da
catarata.
*****
Ambos estavam desacordados à margem de um rio
calmo.
Um garoto miúdo, com roupas rasgadas se aproximou
cautelosamente.
Olhou para Cayenne e suas vestimentas. Olhou para
Nash e seu grande porte.
Com sua mão peluda tocou a armadura de Cayenne.
Empurrou a face de Nash, que abriu os olhos devagar. Viu a criança ao seu lado
e com um sorriso disse:
– Hey! Obrigado!
O menino correu, sobre os pés e as mãos, o mais
rápido que pode para longe deles.
Nash aproximou-se de Cayenne, deu uns tapinhas
leves em seu rosto.
– Acorda Cayenne!
Nada.
Com as mãos formando uma concha pegou um pouco de
água e jogou na face do amigo.
Assustado Cayenne levantou-se em um pulo.
– O que você tens na cabeça? – perguntou nervoso.
– Estamos vivos, não estamos? – riu o jovem. –
Perdidos, mas vivos.
Cayenne, cobrindo os olhos por causa do sol, olhou
ao redor. Uma grande estepe os cercava.
– Acredito que estamos em Veldt.
Nash começou a andar.
– Aonde vais?
– Você disse que Mobliz fica a leste, não é?
Andaram por várias horas evitando ao máximo as
criaturas da região. Não haviam árvores, somente uma grande imensidão de mata
rasteira.
Ao fim da tarde chegaram a Mobliz.
O império ainda não tinha alcançado Mobliz devido à
sua posição geográfica.
Foram bem recebidos na cidade, as pessoas admiravam
saber que haviam enfrentado a Catarata de Baren e estavam vivos. Perguntaram
sobre estadia e indicaram o hotel da cidade, onde passaram a noite.
No outro dia, ainda no hotel, enquanto tomavam café
da manhã, conversavam com a moça que os serviam.
– Como conseguiram sobreviver à catarata? Ela tem
uma correnteza muito forte! – depois continuou com um tom mais baixo na voz. –
Há alguns dias um rapaz chegou aqui muito ferido, ele era um soldado do
império. Está sendo cuidado em uma casa ao norte da cidade.
E prosseguiu
– Passaram por uma casa ao norte? O homem que vive
lá é um pouco maluco, dizem que ele abandonou o filho no meio de Veldt porque
achou que ele era um demônio!
Vendo que a moça não iria para de falar Cayenne se
levantou, pediu licença e saiu.
Andou pela cidade, rumo ao norte, até que encontrou
duas crianças.
– O soldado aqui dentro está muito doente – disse a
pequena.
– Fale baixo! Ele está muito ferido! – repreendeu o
menino.
Cayenne entrou na casa.
Um rapaz muito debilitado jazia na cama.
– Olá? O que houve com você?
– Sou de Maranda. Quando o império invadiu a cidade
eu me juntei a eles, porém me rebelei quando soube a crueldade que Kefka
planejava para Doma – disse o homem acamado. – Eles me caçaram e fizeram isso
comigo.
Então mostrou o seu braço totalmente ferido e suas
pernas debilitadas.
– Nunca mais verei a minha namorada, Lola,
novamente. Ela me mandou uma carta, gostaria de responder mas nem consigo pegar
em uma caneta. A carta está na escrivaninha, poderia lê-la para mim?
Cayenne, comovido com a situação do rapaz, pegou a
carta e sentou-se ao lado da cama.
“Nunca vou me acostumar a ver soldados pelas ruas
de Maranda, mas do resto está tudo bem.
As flores estão desabrochando, isso significa que a
primavera vem aí.
Como está? Estou tão preocupada. Quem dera eu estar
aí contigo.
Eu só penso em ti... por favor, recupere-se
depressa e volte para mim, meu amor.
Lola”
Ao terminar de ler, o rapaz estava virado do outro
lado da cama. Cayenne levantou-se deixou a carta sobre a cadeira e saiu,
deixando o rapaz com sua tristeza.
*****
Nash deixou o hotel atordoado pela tagarelice da
moça.
“Cayenne me paga por ter me deixado sozinho”,
pensou consigo enquanto procurava uma loja para comprar suprimentos para a
viagem.
Próximo ao balcão da loja dois homens conversavam.
– Quando estava caçando vi um menino correndo junto
com um bando de animais.
– Eu vi algo parecido – disse o outro –, fui
emboscado por um bando de criaturas, não tinha armas então joguei um pedaço de
carne seca. Um menino saltou do nada e levou-a! Tudo o que restou foi correr!
Nash lembrou no menino que vira quando acordou e
pediu carne seca para viagem.
Ao sair da loja encontrou Cayenne deixando a casa
onde funcionava o serviço postal da cidade.
Por ser uma cidade pequena e isolada, a única forma
de comunicação com o restante do mundo era através de pombos correio.
– Vamos partir? – perguntou para Nash.
– Deixe você! Ficou passeando enquanto eu ouvia
todas as histórias do café da manhã.
Os dois riram e deixaram Mobliz.
*****
– A moça do hotel disse que devemos ir para a
Montanha Crescente, ao sul!
– O que mais ela disse?
– Além de que Dean e Catarina estarem namorando com
apenas 16 anos?
– Concordo com a madame, acho deveras jovens para
isso – disse Cayenne, tentando parecer sério.
– Que na Montanha Crescente é possível ter acesso
um emaranhado de túneis submersos que podem nos levar a Nikeah, próxima a
Narshe!
– E vais levar ela a sério?
– Tem ideia melhor?
Nash parou de falar quando viu uma criatura miúda,
um pouco mais a frente de onde estavam.
– Espere – disse baixo para Cayenne.
Pegou de sua bolsa o pedaço de carne seca que havia
comprado e vagarosamente se aproximou, estendendo para o menino, que, ao sentir
o cheiro, se aproximou com medo.
– Tome.
O menino comeu rapidamente o pedaço de carne e se
aproximou pulando.
– Vós sois estranho!
O menino virou a cabeça de lado.
– Eu sou Cayenne. Ele Nash.
– Você Nash. Você Cayenne. Estar com fome!
– Não tenho mais – disse Nash.
– Vão buscar mais pra mim!
– Seu comilão! – respondeu Nash - Pára de me olhar
assim!
– Você estar com medo?
– Eu? Quer lutar?
O menino em uma investida tentou morder o braço de
Nash, que esquivando empurrou o menino no chão. Rapidamente pulou e mordeu o
outro braço de Nash, que deu outro empurrão, afastando o menino.
– Você é forte! – disse Nash.
O menino riu.
– Engraçado! Você é forte!
Então Nash correu atrás do menino tentando pegá-lo.
O menino pulava rapidamente fugindo.
– Você dançar bem! – disse o menino rindo – Eu
gostar!
Vendo que ia começar tudo de novo, Cayenne entrou
no meio.
– Vamos parar! E vós, seu selvagem, quem sois?
– Vós? – repetiu o menino rindo. – Vós! Vós!
Cayenne virou as costas.
– Você mal? – aproximou-se. – Você mal... comigo?
Nash puxou o menino para longe e disse baixinho.
– A família dele foi morta...
O menino se aproximou novamente de Cayenne.
– Gau entender... Gau desculpar. Gau não ser mau.
– Olhem! Não podeis ficar dançando o dia todo –
disse Cayenne. – Gau, és vosso nome, certo? Eu acho que nos daríamos bem.
Porque não se juntais a nós?
Gau alegre respondeu.
– Eu dar um presente pra vocês! Gau dar um presente
bonito pra Cayenne e Nash pela comida!
– Que tipo de presente? – perguntou Nash.
– O tesouro de Gau! Brilha! Brilha! Brilha!
– Algo brilhante? – perguntou Nash.
– O Sr. "Vós" gosta de coisas que brilham?
– O Sr. "Vós" é ele, ele alí! – disse
Nash rindo apontando para Cayenne. – Algo brilhante? Locke vai ficar com inveja
quando souber!
– Quem é Locke? Ele ser mau? Ele vai roubar meu
tesouro?
– Locke? Bem, ele é...
Gau começou a pular alegre ao falar de seu tesouro
brilhante.
– Escute quando alguém está falando com você! –
repreendeu Nash.
– Acho que estais tentando nos dizer algo.
– Tudo bem, vamos lá.
Gau os guiou correndo à frente, parou e começou a
chama-los com a mão.
– Lá! Lá! Coisa brilhante lá! - Gau apontava para a
Montanha Crescente...
– Olha, vamos apenas segui-lo até a montanha.
Então partiram.
Nash parou, enquanto os outros dois já caminhavam e
suspirou.
– Porque nós o convidamos afinal? – falou consigo
mesmo.
– Sr. "Vós"! Vamos! Rápido! Já estamos
indo!
– Hey! Eu já te falei! Eu não sou o Sr.
"Vós"!
Então correu para alcança-los.
*****
No caminho encontraram diversas criaturas com as
quais tiveram que batalhar.
Nash notou que Gau se portava em batalha de forma
muito semelhante as criaturas.
Créditos da imagem: Takeda Kanryuusai |
"Claro", pensou consigo, "ele
cresceu e teve que aprender a se virar nessas terras, deve ter sofrido
muito."
Ao final da tarde chegaram a entrada de uma
caverna, na encosta da Montanha Crescente. Ao entrarem o menino se abaixou e
começou a andar em círculos como se procurasse algo. Nash e Cayenne se
entreolharam curiosos.
– Cayenne – falou Nash baixo. – A coisa brilhante
que Gau estava falando, deve estar aqui.
Cayenne assentiu com a cabeça.
– Senhor Gau, onde está?
O menino parou, olhou e coçando a cabeça disse:
– Gau... esquecer...
Uma expressão de desanimo tomou conta dos dois.
– Vamos procurá-la? – sugeriu Nash.
– Certamente! – concordou Cayenne.
Avançaram caverna adentro em busca da coisa
brilhante da qual Gau falara.
Ao chegarem próximos á um grande precipício Gau
ficou inquieto.
– Gau, o que houve? – Nash se aproximou da beirada
olhando para baixo.
Gau se aproximou por trás e encostou em Nash
fingindo que o empurraria, com um pulo Nash se afastou do precipício, porém sua
bolsa caiu.
Gau ria.
– Minha bolsa! Eu tinha 500 moedas lá! Ah Gau,
seu...
Ao tentar agarrar o garoto, Gau correu para trás de
Cayenne.
– Oh meu Deus, príncipe Nash, deixe-me tratar
disto.
Nash olhou para Cayenne, olhou para Gau.
– Argggh! Vamos logo!
Prosseguiram, mas adiante, Gau correu na frente e
trouxe um frasco.
– Uma poção?
– Este é o tesouro do senhor Gau?
Gau sacudiu a cabeça.
Andaram pela caverna mais de uma vez, já estavam
cansados quando Gau se agitou e começou a cavar o chão.
– Isto que é o tesouro do senhor Gau?
– Tesouro! Sim! Tem mais!
Acompanharam o garoto, que mais a frente
desenterrou mais duas coisas, como a primeira.
– Parece um capacete, mas tem um tipo de vidro na
frente – comento Cayenne.
– O que fazemos com eles? – questionou Nash.
Cayenne pegou outro para examinar mais de perto.
– Tive uma ideia! – disse Nash. – Deve dar para
respirar debaixo d'água com isto!
Cayenne o olhava desconfiado.
– Vamos! – disse Nash empolgado com a sua ideia,
partindo para a saída da caverna.
A saída dava para uma série de corredeiras que
ficavam a cerca de uns 3 metros abaixo de onde estavam.
– Que correnteza rápida – analisou Cayenne,
lembrando do ocorrido nas Cataratas de Baren.
– Vamos! Por aqui deve dar para alcançar Nikeah. Se
eu ficar aqui, nunca mais verei meus amigos.
Olharam para baixo para analisando a altura. Gau se
aproximou, olhou e com um pulo se afastou amedrontado. Nash e Cayenne olharam
para ele e riram.
– Vamos! – incentivou Nash. – Coloque-o assim em
sua cabeça.
Gau hesitou, mas vestiu o capacete.
Cayenne e Nash saltaram, enquanto Gau olhava com
medo. Mas logo saltou atrás.
*****
De fato a moça do hotel de Mobliz não mentiu,
existia um emaranhado de túneis e canais submersos, conhecido como Tuneis da
Serpente, que levava até Nikeah. Os três tiveram sorte, pois chegaram à cidade,
sendo resgatados pelos trabalhadores do porto.
Nikeah é uma cidade portuária, que ainda não havia
sido tomada pelo império. O comércio era a principal renda da cidade. Barcos
chegavam e partiam diariamente, lotados de mercadoria.
O único jeito de alcançar Nikeah, sem contar pelos
túneis submersos, é através do mar.
Após serem resgatados comeram algo no pub da cidade,
onde a dançarina do local puxou conversa com Cayenne.
– Olá fofo! Quer dançar comigo?
Cayenne ficou desajeitado se afastando da moça.
– Como vos atreveis? Sua dançarina lasciva.
– Céus, calma fofo! – disse puxando-o para perto de
si.
Cayenne se desvencilhou ainda sem jeito.
– Fofo?
Nash se aproximou do amigo.
– Cayenne, calma, vamos embora – disse Nash.
– Pare de sussurrar – disse a moça se aproximando.
– Os meus ouvidos estão em fogo para te ouvir.
– Basta! Não tens vergonha? Sou um samurai
respeitável.
– Tudo bem – disse a moça seguindo para o balcão,
mas sem antes dar uma piscadela para o guerreiro.
Saíram do pub quando ouviram que um barco partiria
para Fígaro Sul.
Embarcaram.
– De Figaro Sul para Narshe é um instante. – disse Cayenne.
– Espero que tudo esteja bem com meus amigos.
– Tenho certeza de que está tudo bem.
– Gau também achar!
*****
Já era noite quando chegaram ao seu destino.
Sem dinheiro para pernoitarem em Figaro Sul,
partiram para Narshe.
Saíram da floresta em silêncio.
Seguiram para noroeste, até alcançarem um penhasco
em frente a uma grande cascata.
Nash olhou para a cascata.
– Esta deve ser a Catarata de Baren.
– Ao sul fica Veldt – completou Cyan – É um lugar
perigoso, repleto de criaturas selvagens.
– E temos o império atrás de nós.
– Se atravessarmos Veldt conseguimos chegar a
Mobliz, a leste.
Um momento de silêncio tomou conta do trio.
– Fiz tudo o que tinha que fazer – Shadow quebrou o
silêncio.
Ao se afastar, Nash interrompeu.
– Shadow...
O companheiro taciturno olhou.
– Obrigado pela ajuda! Espero que um dia nos
encontremos novamente!
– Vos
agradeço – agradeceu Cyan.
Então Shadow partiu seguido por Interceptor, seu
cão.
– O que faremos agora? – perguntou Cyan.
Nash se afastou.
–Não há outra saída... – disse, se afastando
cabisbaixo.
Cyan continuava olhando as quedas e as terras
abaixo. Quando se virou, viu Nash com um sorriso no rosto, deu dois passos para
trás assustado.
– Principe
Na...
Nash correu em sua direção, segurou o braço de Cyan
e saltou, precipício abaixo, em direção ao fosso, onde as águas da cascata
rompiam com violência.
O grito de Cyan foi abafado pelo forte som da
catarata.
*****
Ambos estavam desacordados à margem de um rio
calmo.
Um garoto miúdo, com roupas rasgadas se aproximou
cautelosamente.
Olhou para Cyan e suas vestimentas. Olhou para Nash
e seu grande porte.
Com sua mão peluda tocou a armadura de Cyan.
Empurrou a face de Nash, que abriu os olhos devagar. Viu a criança ao seu lado
e com um sorriso disse:
– Hey! Obrigado!
O menino correu, sobre os pés e as mãos, o mais
rápido que pode para longe deles.
Nash aproximou-se de Cyan, deu uns tapinhas leves
em seu rosto.
– Acorda Cyan!
Nada.
Com as mãos formando uma concha pegou um pouco de
água e jogou na face do amigo.
Assustado Cyan levantou-se em um pulo.
– O que você tens na cabeça? – perguntou nervoso.
– Estamos vivos, não estamos? – riu o jovem. –
Perdidos, mas vivos.
Cyan, cobrindo os olhos por causa do sol, olhou ao
redor. Uma grande estepe os cercava.
– Acredito que estamos em Veldt.
Nash começou a andar.
– Aonde vais?
– Você disse que Mobliz fica a leste, não é?
Andaram por várias horas evitando ao máximo as
criaturas da região. Não haviam árvores, somente uma grande imensidão de mata
rasteira.
Ao fim da tarde chegaram a Mobliz.
O império ainda não tinha alcançado Mobliz devido à
sua posição geográfica.
Foram bem recebidos na cidade, as pessoas admiravam
saber que haviam enfrentado a Catarata de Baren e estavam vivos. Perguntaram
sobre estadia e indicaram o hotel da cidade, onde passaram a noite.
No outro dia, ainda no hotel, enquanto tomavam café
da manhã, conversavam com a moça que os serviam.
– Como conseguiram sobreviver à catarata? Ela tem
uma correnteza muito forte! – depois continuou com um tom mais baixo na voz. –
Há alguns dias um rapaz chegou aqui muito ferido, ele era um soldado do
império. Está sendo cuidado em uma casa ao norte da cidade.
E prosseguiu
– Passaram por uma casa ao norte? O homem que vive
lá é um pouco maluco, dizem que ele abandonou o filho no meio de Veldt porque
achou que ele era um demônio!
Vendo que a moça não iria para de falar Cyan se
levantou, pediu licença e saiu.
Andou pela cidade, rumo ao norte, até que encontrou
duas crianças.
– O soldado aqui dentro está muito doente – disse a
pequena.
– Fale baixo! Ele está muito ferido! – repreendeu o
menino.
Cyan entrou na casa.
Um rapaz muito debilitado jazia na cama.
– Olá? O que houve com você?
– Sou de Maranda. Quando o império invadiu a cidade
eu me juntei a eles, porém me rebelei quando soube a crueldade que Kefka
planejava para Doma – disse o homem acamado. – Eles me caçaram e fizeram isso
comigo.
Então mostrou o seu braço totalmente ferido e suas
pernas debilitadas.
– Nunca mais verei a minha namorada, Lola,
novamente. Ela me mandou uma carta, gostaria de responder mas nem consigo pegar
em uma caneta. A carta está na escrivaninha, poderia lê-la para mim?
Cyan, comovido com a situação do rapaz, pegou a
carta e sentou-se ao lado da cama.
“Nunca vou me acostumar a ver soldados pelas ruas
de Maranda, mas do resto está tudo bem.
As flores estão desabrochando, isso significa que a
primavera vem aí.
Como está? Estou tão preocupada. Quem dera eu estar
aí contigo.
Eu só penso em ti... por favor, recupere-se
depressa e volte para mim, meu amor.
Lola”
Ao terminar de ler, o rapaz estava virado do outro
lado da cama. Cyan levantou-se deixou a carta sobre a cadeira e saiu, deixando
o rapaz com sua tristeza.
*****
Nash deixou o hotel atordoado pela tagarelice da
moça.
“Cyan me paga por ter me deixado sozinho”, pensou
consigo enquanto procurava uma loja para comprar suprimentos para a viagem.
Próximo ao balcão da loja dois homens conversavam.
– Quando estava caçando vi um menino correndo junto
com um bando de animais.
– Eu vi algo parecido – disse o outro –, fui
emboscado por um bando de criaturas, não tinha armas então joguei um pedaço de
carne seca. Um menino saltou do nada e levou-a! Tudo o que restou foi correr!
Nash lembrou no menino que vira quando acordou e
pediu carne seca para viagem.
Ao sair da loja encontrou Cyan deixando a casa onde
funcionava o serviço postal da cidade.
Por ser uma cidade pequena e isolada, a única forma
de comunicação com o restante do mundo era através de pombos correio.
– Vamos partir? – perguntou para Nash.
– Deixe você! Ficou passeando enquanto eu ouvia
todas as histórias do café da manhã.
Os dois riram e deixaram Mobliz.
*****
– A moça do hotel disse que devemos ir para a
Montanha Crescente, ao sul!
– O que mais ela disse?
– Além de que Dean e Catarina estarem namorando com
apenas 16 anos?
– Concordo com a madame, acho deveras jovens para
isso – disse Cyan, tentando parecer sério.
– Que na Montanha Crescente é possível ter acesso
um emaranhado de túneis submersos que podem nos levar a Nikeah, próxima a
Narshe!
– E vais levar ela a sério?
– Tem ideia melhor?
Nash parou de falar quando viu uma criatura miúda,
um pouco mais a frente de onde estavam.
– Espere – disse baixo para Cyan.
Pegou de sua bolsa o pedaço de carne seca que havia
comprado e vagarosamente se aproximou, estendendo para o menino, que, ao sentir
o cheiro, se aproximou com medo.
– Tome.
O menino comeu rapidamente o pedaço de carne e se
aproximou pulando.
– Vós sois estranho!
O menino virou a cabeça de lado.
– Eu sou Cyan. Ele Nash.
– Você Nash. Você Cyan. Estar com fome!
– Não tenho mais – disse Nash.
– Vão buscar mais pra mim!
– Seu comilão! – respondeu Nash - Pára de me olhar
assim!
– Você estar com medo?
– Eu? Quer lutar?
O menino em uma investida tentou morder o braço de
Nash, que esquivando empurrou o menino no chão. Rapidamente pulou e mordeu o
outro braço de Nash, que deu outro empurrão, afastando o menino.
– Você é forte! – disse Nash.
O menino riu.
– Engraçado! Você é forte!
Então Nash correu atrás do menino tentando pegá-lo.
O menino pulava rapidamente fugindo.
– Você dançar bem! – disse o menino rindo – Eu
gostar!
Vendo que ia começar tudo de novo, Cyan entrou no
meio.
– Vamos parar! E vós, seu selvagem, quem sois?
– Vós? – repetiu o menino rindo. – Vós! Vós!
Cyan virou as costas.
– Você mal? – aproximou-se. – Você mal... comigo?
Nash puxou o menino para longe e disse baixinho.
– A família dele foi morta...
O menino se aproximou novamente de Cyan.
– Gau entender... Gau desculpar. Gau não ser mau.
– Olhem! Não podeis ficar dançando o dia todo –
disse Cyan. – Gau, és vosso nome, certo? Eu acho que nos daríamos bem. Porque
não se juntais a nós?
Gau alegre respondeu.
– Eu dar um presente pra vocês! Gau dar um presente
bonito pra Cyan e Nash pela comida!
– Que tipo de presente? – perguntou Nash.
– O tesouro de Gau! Brilha! Brilha! Brilha!
– Algo brilhante? – perguntou Nash.
– O Sr. "Vós" gosta de coisas que brilham?
– O Sr. "Vós" é ele, ele alí! – disse
Nash rindo apontando para Cyan. – Algo brilhante? Locke vai ficar com inveja
quando souber!
– Quem é Locke? Ele ser mau? Ele vai roubar meu
tesouro?
– Locke? Bem, ele é...
Gau começou a pular alegre ao falar de seu tesouro
brilhante.
– Escute quando alguém está falando com você! –
repreendeu Nash.
– Acho que estais tentando nos dizer algo.
– Tudo bem, vamos lá.
Gau os guiou correndo à frente, parou e começou a
chama-los com a mão.
– Lá! Lá! Coisa brilhante lá! - Gau apontava para a
Montanha Crescente...
– Olha, vamos apenas segui-lo até a montanha.
Então partiram.
Nash parou, enquanto os outros dois já caminhavam e
suspirou.
– Porque nós o convidamos afinal? – falou consigo
mesmo.
– Sr. "Vós"! Vamos! Rápido! Já estamos
indo!
– Hey! Eu já te falei! Eu não sou o Sr.
"Vós"!
Então correu para alcança-los.
*****
No caminho encontraram diversas criaturas com as
quais tiveram que batalhar.
Nash notou que Gau se portava em batalha de forma
muito semelhante as criaturas.
"Claro", pensou consigo, "ele
cresceu e teve que aprender a se virar nessas terras, deve ter sofrido
muito."
Ao final da tarde chegaram a entrada de uma
caverna, na encosta da Montanha Crescente. Ao entrarem o menino se abaixou e
começou a andar em círculos como se procurasse algo. Nash e Cyan se
entreolharam curiosos.
– Cyan – falou Nash baixo. – A coisa brilhante que
Gau estava falando, deve estar aqui.
Cyan assentiu com a cabeça.
– Senhor Gau, onde está?
O menino parou, olhou e coçando a cabeça disse:
– Gau... esquecer...
Uma expressão de desanimo tomou conta dos dois.
– Vamos procurá-la? – sugeriu Nash.
– Certamente! – concordou Cyan.
Avançaram caverna adentro em busca da coisa
brilhante da qual Gau falara.
Ao chegarem próximos á um grande precipício Gau
ficou inquieto.
– Gau, o que houve? – Nash se aproximou da beirada
olhando para baixo.
Gau se aproximou por trás e encostou em Nash
fingindo que o empurraria, com um pulo Nash se afastou do precipício, porém sua
bolsa caiu.
Gau ria.
– Minha bolsa! Eu tinha 500 moedas lá! Ah Gau,
seu...
Ao tentar agarrar o garoto, Gau correu para trás de
Cyan.
– Oh meu Deus, príncipe Nash, deixe-me tratar
disto.
Nash olhou para Cyan, olhou para Gau.
– Argggh! Vamos logo!
Prosseguiram, mas adiante, Gau correu na frente e
trouxe um frasco.
– Uma poção?
– Este é o tesouro do senhor Gau?
Gau sacudiu a cabeça.
Andaram pela caverna mais de uma vez, já estavam
cansados quando Gau se agitou e começou a cavar o chão.
– Isto que é o tesouro do senhor Gau?
– Tesouro! Sim! Tem mais!
Acompanharam o garoto, que mais a frente
desenterrou mais duas coisas, como a primeira.
– Parece um capacete, mas tem um tipo de vidro na
frente – comento Cyan.
– O que fazemos com eles? – questionou Nash.
Cyan pegou outro para examinar mais de perto.
– Tive uma ideia! – disse Nash. – Deve dar para
respirar debaixo d'água com isto!
Cyan o olhava desconfiado.
– Vamos! – disse Nash empolgado com a sua ideia,
partindo para a saída da caverna.
A saída dava para uma série de corredeiras que
ficavam a cerca de uns 3 metros abaixo de onde estavam.
– Que correnteza rápida – analisou Cyan, lembrando
do ocorrido nas Cataratas de Baren.
– Vamos! Por aqui deve dar para alcançar Nikeah. Se
eu ficar aqui, nunca mais verei meus amigos.
Olharam para baixo para analisando a altura. Gau se
aproximou, olhou e com um pulo se afastou amedrontado. Nash e Cyan olharam para
ele e riram.
– Vamos! – incentivou Nash. – Coloque-o assim em
sua cabeça.
Gau hesitou, mas vestiu o capacete.
Cyan e Nash saltaram, enquanto Gau olhava com medo.
Mas logo saltou atrás.
*****
De fato a moça do hotel de Mobliz não mentiu,
existia um emaranhado de túneis e canais submersos, conhecido como Tuneis da
Serpente, que levava até Nikeah. Os três tiveram sorte, pois chegaram à cidade,
sendo resgatados pelos trabalhadores do porto.
Nikeah é uma cidade portuária, que ainda não havia
sido tomada pelo império. O comércio era a principal renda da cidade. Barcos
chegavam e partiam diariamente, lotados de mercadoria.
O único jeito de alcançar Nikeah, sem contar pelos
túneis submersos, é através do mar.
Após serem resgatados comeram algo no pub da cidade,
onde a dançarina do local puxou conversa com Cyan.
– Olá fofo! Quer dançar comigo?
Cyan ficou desajeitado se afastando da moça.
– Como vos atreveis? Sua dançarina lasciva.
– Céus, calma fofo! – disse puxando-o para perto de
si.
Cyan se desvencilhou ainda sem jeito.
– Fofo?
Nash se aproximou do amigo.
– Cyan, calma, vamos embora – disse Nash.
– Pare de sussurrar – disse a moça se aproximando.
– Os meus ouvidos estão em fogo para te ouvir.
– Basta! Não tens vergonha? Sou um samurai
respeitável.
– Tudo bem – disse a moça seguindo para o balcão,
mas sem antes dar uma piscadela para o guerreiro.
Saíram do pub quando ouviram que um barco partiria
para Fígaro Sul.
Embarcaram.
– De Figaro Sul para Narshe é um instante. – disse
Cyan.
– Espero que tudo esteja bem com meus amigos.
– Tenho certeza de que está tudo bem.
– Gau também achar!
*****
Já era noite quando chegaram ao seu destino.
Sem dinheiro para pernoitarem em Figaro Sul,
partiram para Narshe.
Comentários
Postar um comentário