07. O menino e o tesouro de Veldt



Saíram da floresta em silêncio.
Seguiram para noroeste, até alcançarem um penhasco em frente a uma grande cascata.
Nash olhou para a cascata.
– Esta deve ser a Catarata de Baren.
– Ao sul fica Veldt – completou Cayenne – É um lugar perigoso, repleto de criaturas selvagens.
– E temos o império atrás de nós.
– Se atravessarmos Veldt conseguimos chegar a Mobliz, a leste.
Um momento de silêncio tomou conta do trio.

– Fiz tudo o que tinha que fazer – Shadow quebrou o silêncio.
Ao se afastar, Nash interrompeu.
– Shadow...
O companheiro taciturno olhou.
– Obrigado pela ajuda! Espero que um dia nos encontremos novamente!
  Vos agradeço – agradeceu Cayenne.
Então Shadow partiu seguido por Interceptor, seu cão.
– O que faremos agora? – perguntou Cayenne.
Nash se afastou.
–Não há outra saída... – disse, se afastando cabisbaixo.
Cayenne continuava olhando as quedas e as terras abaixo. Quando se virou, viu Nash com um sorriso no rosto, deu dois passos para trás assustado.
  Principe Na...
Nash correu em sua direção, segurou o braço de Cayenne e saltou, precipício abaixo, em direção ao fosso, onde as águas da cascata rompiam com violência.
O grito de Cayenne foi abafado pelo forte som da catarata.

*****

Ambos estavam desacordados à margem de um rio calmo.
Um garoto miúdo, com roupas rasgadas se aproximou cautelosamente.
Olhou para Cayenne e suas vestimentas. Olhou para Nash e seu grande porte.
Com sua mão peluda tocou a armadura de Cayenne. Empurrou a face de Nash, que abriu os olhos devagar. Viu a criança ao seu lado e com um sorriso disse:
– Hey! Obrigado!
O menino correu, sobre os pés e as mãos, o mais rápido que pode para longe deles.
Nash aproximou-se de Cayenne, deu uns tapinhas leves em seu rosto.
– Acorda Cayenne!
Nada.
Com as mãos formando uma concha pegou um pouco de água e jogou na face do amigo.
Assustado Cayenne levantou-se em um pulo.
– O que você tens na cabeça? – perguntou nervoso.
– Estamos vivos, não estamos? – riu o jovem. – Perdidos, mas vivos.
Cayenne, cobrindo os olhos por causa do sol, olhou ao redor. Uma grande estepe os cercava.
– Acredito que estamos em Veldt.
Nash começou a andar.
– Aonde vais?
– Você disse que Mobliz fica a leste, não é?
Andaram por várias horas evitando ao máximo as criaturas da região. Não haviam árvores, somente uma grande imensidão de mata rasteira.
Ao fim da tarde chegaram a Mobliz.
O império ainda não tinha alcançado Mobliz devido à sua posição geográfica.
Foram bem recebidos na cidade, as pessoas admiravam saber que haviam enfrentado a Catarata de Baren e estavam vivos. Perguntaram sobre estadia e indicaram o hotel da cidade, onde passaram a noite.
No outro dia, ainda no hotel, enquanto tomavam café da manhã, conversavam com a moça que os serviam.
– Como conseguiram sobreviver à catarata? Ela tem uma correnteza muito forte! – depois continuou com um tom mais baixo na voz. – Há alguns dias um rapaz chegou aqui muito ferido, ele era um soldado do império. Está sendo cuidado em uma casa ao norte da cidade.
E prosseguiu
– Passaram por uma casa ao norte? O homem que vive lá é um pouco maluco, dizem que ele abandonou o filho no meio de Veldt porque achou que ele era um demônio!
Vendo que a moça não iria para de falar Cayenne se levantou, pediu licença e saiu.
Andou pela cidade, rumo ao norte, até que encontrou duas crianças.
– O soldado aqui dentro está muito doente – disse a pequena.
– Fale baixo! Ele está muito ferido! – repreendeu o menino.
Cayenne entrou na casa.
Um rapaz muito debilitado jazia na cama.
– Olá? O que houve com você?
– Sou de Maranda. Quando o império invadiu a cidade eu me juntei a eles, porém me rebelei quando soube a crueldade que Kefka planejava para Doma – disse o homem acamado. – Eles me caçaram e fizeram isso comigo.
Então mostrou o seu braço totalmente ferido e suas pernas debilitadas.
– Nunca mais verei a minha namorada, Lola, novamente. Ela me mandou uma carta, gostaria de responder mas nem consigo pegar em uma caneta. A carta está na escrivaninha, poderia lê-la para mim?
Cayenne, comovido com a situação do rapaz, pegou a carta e sentou-se ao lado da cama.

“Nunca vou me acostumar a ver soldados pelas ruas de Maranda, mas do resto está tudo bem.
As flores estão desabrochando, isso significa que a primavera vem aí.
Como está? Estou tão preocupada. Quem dera eu estar aí contigo.
Eu só penso em ti... por favor, recupere-se depressa e volte para mim, meu amor.

Lola”

Ao terminar de ler, o rapaz estava virado do outro lado da cama. Cayenne levantou-se deixou a carta sobre a cadeira e saiu, deixando o rapaz com sua tristeza.

*****

Nash deixou o hotel atordoado pela tagarelice da moça.
“Cayenne me paga por ter me deixado sozinho”, pensou consigo enquanto procurava uma loja para comprar suprimentos para a viagem.
Próximo ao balcão da loja dois homens conversavam.
– Quando estava caçando vi um menino correndo junto com um bando de animais.
– Eu vi algo parecido – disse o outro –, fui emboscado por um bando de criaturas, não tinha armas então joguei um pedaço de carne seca. Um menino saltou do nada e levou-a! Tudo o que restou foi correr!
Nash lembrou no menino que vira quando acordou e pediu carne seca para viagem.
Ao sair da loja encontrou Cayenne deixando a casa onde funcionava o serviço postal da cidade.
Por ser uma cidade pequena e isolada, a única forma de comunicação com o restante do mundo era através de pombos correio.
– Vamos partir? – perguntou para Nash.
– Deixe você! Ficou passeando enquanto eu ouvia todas as histórias do café da manhã.
Os dois riram e deixaram Mobliz.

*****

– A moça do hotel disse que devemos ir para a Montanha Crescente, ao sul!
– O que mais ela disse?
– Além de que Dean e Catarina estarem namorando com apenas 16 anos?
– Concordo com a madame, acho deveras jovens para isso – disse Cayenne, tentando parecer sério.
– Que na Montanha Crescente é possível ter acesso um emaranhado de túneis submersos que podem nos levar a Nikeah, próxima a Narshe!
– E vais levar ela a sério?
– Tem ideia melhor?
Nash parou de falar quando viu uma criatura miúda, um pouco mais a frente de onde estavam.
– Espere – disse baixo para Cayenne.
Pegou de sua bolsa o pedaço de carne seca que havia comprado e vagarosamente se aproximou, estendendo para o menino, que, ao sentir o cheiro, se aproximou com medo.
– Tome.
O menino comeu rapidamente o pedaço de carne e se aproximou pulando.
– Vós sois estranho!
O menino virou a cabeça de lado.
– Eu sou Cayenne. Ele Nash.
– Você Nash. Você Cayenne. Estar com fome!
– Não tenho mais – disse Nash.
– Vão buscar mais pra mim!
– Seu comilão! – respondeu Nash - Pára de me olhar assim!
– Você estar com medo?
– Eu? Quer lutar?
O menino em uma investida tentou morder o braço de Nash, que esquivando empurrou o menino no chão. Rapidamente pulou e mordeu o outro braço de Nash, que deu outro empurrão, afastando o menino.
– Você é forte! – disse Nash.
O menino riu.
– Engraçado! Você é forte!
Então Nash correu atrás do menino tentando pegá-lo. O menino pulava rapidamente fugindo.
– Você dançar bem! – disse o menino rindo – Eu gostar!
Vendo que ia começar tudo de novo, Cayenne entrou no meio.
– Vamos parar! E vós, seu selvagem, quem sois?
– Vós? – repetiu o menino rindo. – Vós! Vós!
Cayenne virou as costas.
– Você mal? – aproximou-se. – Você mal... comigo?
Nash puxou o menino para longe e disse baixinho.
– A família dele foi morta...
O menino se aproximou novamente de Cayenne.
– Gau entender... Gau desculpar. Gau não ser mau.
– Olhem! Não podeis ficar dançando o dia todo – disse Cayenne. – Gau, és vosso nome, certo? Eu acho que nos daríamos bem. Porque não se juntais a nós?
Gau alegre respondeu.
– Eu dar um presente pra vocês! Gau dar um presente bonito pra Cayenne e Nash pela comida!
– Que tipo de presente? – perguntou Nash.
– O tesouro de Gau! Brilha! Brilha! Brilha!
– Algo brilhante? – perguntou Nash.
– O Sr. "Vós" gosta de coisas que brilham?
– O Sr. "Vós" é ele, ele alí! – disse Nash rindo apontando para Cayenne. – Algo brilhante? Locke vai ficar com inveja quando souber!
– Quem é Locke? Ele ser mau? Ele vai roubar meu tesouro?
– Locke? Bem, ele é...
Gau começou a pular alegre ao falar de seu tesouro brilhante.
– Escute quando alguém está falando com você! – repreendeu Nash.
– Acho que estais tentando nos dizer algo.
– Tudo bem, vamos lá.
Gau os guiou correndo à frente, parou e começou a chama-los com a mão.
– Lá! Lá! Coisa brilhante lá! - Gau apontava para a Montanha Crescente...
– Olha, vamos apenas segui-lo até a montanha.
Então partiram.
Nash parou, enquanto os outros dois já caminhavam e suspirou.
– Porque nós o convidamos afinal? – falou consigo mesmo.
– Sr. "Vós"! Vamos! Rápido! Já estamos indo!
– Hey! Eu já te falei! Eu não sou o Sr. "Vós"!
Então correu para alcança-los.

*****

No caminho encontraram diversas criaturas com as quais tiveram que batalhar.
Nash notou que Gau se portava em batalha de forma muito semelhante as criaturas.
Créditos da imagem: Takeda Kanryuusai
"Claro", pensou consigo, "ele cresceu e teve que aprender a se virar nessas terras, deve ter sofrido muito."

Ao final da tarde chegaram a entrada de uma caverna, na encosta da Montanha Crescente. Ao entrarem o menino se abaixou e começou a andar em círculos como se procurasse algo. Nash e Cayenne se entreolharam curiosos.
– Cayenne – falou Nash baixo. – A coisa brilhante que Gau estava falando, deve estar aqui.
Cayenne assentiu com a cabeça.
– Senhor Gau, onde está?
O menino parou, olhou e coçando a cabeça disse:
– Gau... esquecer...
Uma expressão de desanimo tomou conta dos dois.
– Vamos procurá-la? – sugeriu Nash.
– Certamente! – concordou Cayenne.
Avançaram caverna adentro em busca da coisa brilhante da qual Gau falara.
Ao chegarem próximos á um grande precipício Gau ficou inquieto.
– Gau, o que houve? – Nash se aproximou da beirada olhando para baixo.
Gau se aproximou por trás e encostou em Nash fingindo que o empurraria, com um pulo Nash se afastou do precipício, porém sua bolsa caiu.
Gau ria.
– Minha bolsa! Eu tinha 500 moedas lá! Ah Gau, seu...
Ao tentar agarrar o garoto, Gau correu para trás de Cayenne.
– Oh meu Deus, príncipe Nash, deixe-me tratar disto.
Nash olhou para Cayenne, olhou para Gau.
– Argggh! Vamos logo!
Prosseguiram, mas adiante, Gau correu na frente e trouxe um frasco.
– Uma poção?
– Este é o tesouro do senhor Gau?
Gau sacudiu a cabeça.
Andaram pela caverna mais de uma vez, já estavam cansados quando Gau se agitou e começou a cavar o chão.
– Isto que é o tesouro do senhor Gau?
– Tesouro! Sim! Tem mais!
Acompanharam o garoto, que mais a frente desenterrou mais duas coisas, como a primeira.
– Parece um capacete, mas tem um tipo de vidro na frente – comento Cayenne.
– O que fazemos com eles? – questionou Nash.
Cayenne pegou outro para examinar mais de perto.
– Tive uma ideia! – disse Nash. – Deve dar para respirar debaixo d'água com isto!
Cayenne o olhava desconfiado.
– Vamos! – disse Nash empolgado com a sua ideia, partindo para a saída da caverna.
A saída dava para uma série de corredeiras que ficavam a cerca de uns 3 metros abaixo de onde estavam.
– Que correnteza rápida – analisou Cayenne, lembrando do ocorrido nas Cataratas de Baren.
– Vamos! Por aqui deve dar para alcançar Nikeah. Se eu ficar aqui, nunca mais verei meus amigos.
Olharam para baixo para analisando a altura. Gau se aproximou, olhou e com um pulo se afastou amedrontado. Nash e Cayenne olharam para ele e riram.
– Vamos! – incentivou Nash. – Coloque-o assim em sua cabeça.
Gau hesitou, mas vestiu o capacete.
Cayenne e Nash saltaram, enquanto Gau olhava com medo. Mas logo saltou atrás.

*****

De fato a moça do hotel de Mobliz não mentiu, existia um emaranhado de túneis e canais submersos, conhecido como Tuneis da Serpente, que levava até Nikeah. Os três tiveram sorte, pois chegaram à cidade, sendo resgatados pelos trabalhadores do porto.
Nikeah é uma cidade portuária, que ainda não havia sido tomada pelo império. O comércio era a principal renda da cidade. Barcos chegavam e partiam diariamente, lotados de mercadoria.
O único jeito de alcançar Nikeah, sem contar pelos túneis submersos, é através do mar.
Após serem resgatados comeram algo no pub da cidade, onde a dançarina do local puxou conversa com Cayenne.
– Olá fofo! Quer dançar comigo?
Cayenne ficou desajeitado se afastando da moça.
– Como vos atreveis? Sua dançarina lasciva.
– Céus, calma fofo! – disse puxando-o para perto de si.
Cayenne se desvencilhou ainda sem jeito.
– Fofo?
Nash se aproximou do amigo.
– Cayenne, calma, vamos embora – disse Nash.
– Pare de sussurrar – disse a moça se aproximando. – Os meus ouvidos estão em fogo para te ouvir.
– Basta! Não tens vergonha? Sou um samurai respeitável.
– Tudo bem – disse a moça seguindo para o balcão, mas sem antes dar uma piscadela para o guerreiro.
Saíram do pub quando ouviram que um barco partiria para Fígaro Sul.
Embarcaram.
– De Figaro Sul para Narshe é um instante. – disse Cayenne.
– Espero que tudo esteja bem com meus amigos.
– Tenho certeza de que está tudo bem.
– Gau também achar!

*****

Já era noite quando chegaram ao seu destino.
Sem dinheiro para pernoitarem em Figaro Sul, partiram para Narshe.






























Saíram da floresta em silêncio.
Seguiram para noroeste, até alcançarem um penhasco em frente a uma grande cascata.
Nash olhou para a cascata.
– Esta deve ser a Catarata de Baren.
– Ao sul fica Veldt – completou Cyan – É um lugar perigoso, repleto de criaturas selvagens.
– E temos o império atrás de nós.
– Se atravessarmos Veldt conseguimos chegar a Mobliz, a leste.
Um momento de silêncio tomou conta do trio.
– Fiz tudo o que tinha que fazer – Shadow quebrou o silêncio.
Ao se afastar, Nash interrompeu.
– Shadow...
O companheiro taciturno olhou.
– Obrigado pela ajuda! Espero que um dia nos encontremos novamente!
  Vos agradeço – agradeceu Cyan.
Então Shadow partiu seguido por Interceptor, seu cão.
– O que faremos agora? – perguntou Cyan.
Nash se afastou.
–Não há outra saída... – disse, se afastando cabisbaixo.
Cyan continuava olhando as quedas e as terras abaixo. Quando se virou, viu Nash com um sorriso no rosto, deu dois passos para trás assustado.
  Principe Na...
Nash correu em sua direção, segurou o braço de Cyan e saltou, precipício abaixo, em direção ao fosso, onde as águas da cascata rompiam com violência.
O grito de Cyan foi abafado pelo forte som da catarata.

*****

Ambos estavam desacordados à margem de um rio calmo.
Um garoto miúdo, com roupas rasgadas se aproximou cautelosamente.
Olhou para Cyan e suas vestimentas. Olhou para Nash e seu grande porte.
Com sua mão peluda tocou a armadura de Cyan. Empurrou a face de Nash, que abriu os olhos devagar. Viu a criança ao seu lado e com um sorriso disse:
– Hey! Obrigado!
O menino correu, sobre os pés e as mãos, o mais rápido que pode para longe deles.
Nash aproximou-se de Cyan, deu uns tapinhas leves em seu rosto.
– Acorda Cyan!
Nada.
Com as mãos formando uma concha pegou um pouco de água e jogou na face do amigo.
Assustado Cyan levantou-se em um pulo.
– O que você tens na cabeça? – perguntou nervoso.
– Estamos vivos, não estamos? – riu o jovem. – Perdidos, mas vivos.
Cyan, cobrindo os olhos por causa do sol, olhou ao redor. Uma grande estepe os cercava.
– Acredito que estamos em Veldt.
Nash começou a andar.
– Aonde vais?
– Você disse que Mobliz fica a leste, não é?
Andaram por várias horas evitando ao máximo as criaturas da região. Não haviam árvores, somente uma grande imensidão de mata rasteira.
Ao fim da tarde chegaram a Mobliz.
O império ainda não tinha alcançado Mobliz devido à sua posição geográfica.
Foram bem recebidos na cidade, as pessoas admiravam saber que haviam enfrentado a Catarata de Baren e estavam vivos. Perguntaram sobre estadia e indicaram o hotel da cidade, onde passaram a noite.
No outro dia, ainda no hotel, enquanto tomavam café da manhã, conversavam com a moça que os serviam.
– Como conseguiram sobreviver à catarata? Ela tem uma correnteza muito forte! – depois continuou com um tom mais baixo na voz. – Há alguns dias um rapaz chegou aqui muito ferido, ele era um soldado do império. Está sendo cuidado em uma casa ao norte da cidade.
E prosseguiu
– Passaram por uma casa ao norte? O homem que vive lá é um pouco maluco, dizem que ele abandonou o filho no meio de Veldt porque achou que ele era um demônio!
Vendo que a moça não iria para de falar Cyan se levantou, pediu licença e saiu.
Andou pela cidade, rumo ao norte, até que encontrou duas crianças.
– O soldado aqui dentro está muito doente – disse a pequena.
– Fale baixo! Ele está muito ferido! – repreendeu o menino.
Cyan entrou na casa.
Um rapaz muito debilitado jazia na cama.
– Olá? O que houve com você?
– Sou de Maranda. Quando o império invadiu a cidade eu me juntei a eles, porém me rebelei quando soube a crueldade que Kefka planejava para Doma – disse o homem acamado. – Eles me caçaram e fizeram isso comigo.
Então mostrou o seu braço totalmente ferido e suas pernas debilitadas.
– Nunca mais verei a minha namorada, Lola, novamente. Ela me mandou uma carta, gostaria de responder mas nem consigo pegar em uma caneta. A carta está na escrivaninha, poderia lê-la para mim?
Cyan, comovido com a situação do rapaz, pegou a carta e sentou-se ao lado da cama.

“Nunca vou me acostumar a ver soldados pelas ruas de Maranda, mas do resto está tudo bem.
As flores estão desabrochando, isso significa que a primavera vem aí.
Como está? Estou tão preocupada. Quem dera eu estar aí contigo.
Eu só penso em ti... por favor, recupere-se depressa e volte para mim, meu amor.

Lola”

Ao terminar de ler, o rapaz estava virado do outro lado da cama. Cyan levantou-se deixou a carta sobre a cadeira e saiu, deixando o rapaz com sua tristeza.

*****

Nash deixou o hotel atordoado pela tagarelice da moça.
“Cyan me paga por ter me deixado sozinho”, pensou consigo enquanto procurava uma loja para comprar suprimentos para a viagem.
Próximo ao balcão da loja dois homens conversavam.
– Quando estava caçando vi um menino correndo junto com um bando de animais.
– Eu vi algo parecido – disse o outro –, fui emboscado por um bando de criaturas, não tinha armas então joguei um pedaço de carne seca. Um menino saltou do nada e levou-a! Tudo o que restou foi correr!
Nash lembrou no menino que vira quando acordou e pediu carne seca para viagem.
Ao sair da loja encontrou Cyan deixando a casa onde funcionava o serviço postal da cidade.
Por ser uma cidade pequena e isolada, a única forma de comunicação com o restante do mundo era através de pombos correio.
– Vamos partir? – perguntou para Nash.
– Deixe você! Ficou passeando enquanto eu ouvia todas as histórias do café da manhã.
Os dois riram e deixaram Mobliz.

*****

– A moça do hotel disse que devemos ir para a Montanha Crescente, ao sul!
– O que mais ela disse?
– Além de que Dean e Catarina estarem namorando com apenas 16 anos?
– Concordo com a madame, acho deveras jovens para isso – disse Cyan, tentando parecer sério.
– Que na Montanha Crescente é possível ter acesso um emaranhado de túneis submersos que podem nos levar a Nikeah, próxima a Narshe!
– E vais levar ela a sério?
– Tem ideia melhor?
Nash parou de falar quando viu uma criatura miúda, um pouco mais a frente de onde estavam.
– Espere – disse baixo para Cyan.
Pegou de sua bolsa o pedaço de carne seca que havia comprado e vagarosamente se aproximou, estendendo para o menino, que, ao sentir o cheiro, se aproximou com medo.
– Tome.
O menino comeu rapidamente o pedaço de carne e se aproximou pulando.
– Vós sois estranho!
O menino virou a cabeça de lado.
– Eu sou Cyan. Ele Nash.
– Você Nash. Você Cyan. Estar com fome!
– Não tenho mais – disse Nash.
– Vão buscar mais pra mim!
– Seu comilão! – respondeu Nash - Pára de me olhar assim!
– Você estar com medo?
– Eu? Quer lutar?
O menino em uma investida tentou morder o braço de Nash, que esquivando empurrou o menino no chão. Rapidamente pulou e mordeu o outro braço de Nash, que deu outro empurrão, afastando o menino.
– Você é forte! – disse Nash.
O menino riu.
– Engraçado! Você é forte!
Então Nash correu atrás do menino tentando pegá-lo. O menino pulava rapidamente fugindo.
– Você dançar bem! – disse o menino rindo – Eu gostar!
Vendo que ia começar tudo de novo, Cyan entrou no meio.
– Vamos parar! E vós, seu selvagem, quem sois?
– Vós? – repetiu o menino rindo. – Vós! Vós!
Cyan virou as costas.
– Você mal? – aproximou-se. – Você mal... comigo?
Nash puxou o menino para longe e disse baixinho.
– A família dele foi morta...
O menino se aproximou novamente de Cyan.
– Gau entender... Gau desculpar. Gau não ser mau.
– Olhem! Não podeis ficar dançando o dia todo – disse Cyan. – Gau, és vosso nome, certo? Eu acho que nos daríamos bem. Porque não se juntais a nós?
Gau alegre respondeu.
– Eu dar um presente pra vocês! Gau dar um presente bonito pra Cyan e Nash pela comida!
– Que tipo de presente? – perguntou Nash.
– O tesouro de Gau! Brilha! Brilha! Brilha!
– Algo brilhante? – perguntou Nash.
– O Sr. "Vós" gosta de coisas que brilham?
– O Sr. "Vós" é ele, ele alí! – disse Nash rindo apontando para Cyan. – Algo brilhante? Locke vai ficar com inveja quando souber!
– Quem é Locke? Ele ser mau? Ele vai roubar meu tesouro?
– Locke? Bem, ele é...
Gau começou a pular alegre ao falar de seu tesouro brilhante.
– Escute quando alguém está falando com você! – repreendeu Nash.
– Acho que estais tentando nos dizer algo.
– Tudo bem, vamos lá.
Gau os guiou correndo à frente, parou e começou a chama-los com a mão.
– Lá! Lá! Coisa brilhante lá! - Gau apontava para a Montanha Crescente...
– Olha, vamos apenas segui-lo até a montanha.
Então partiram.
Nash parou, enquanto os outros dois já caminhavam e suspirou.
– Porque nós o convidamos afinal? – falou consigo mesmo.
– Sr. "Vós"! Vamos! Rápido! Já estamos indo!
– Hey! Eu já te falei! Eu não sou o Sr. "Vós"!
Então correu para alcança-los.

*****

No caminho encontraram diversas criaturas com as quais tiveram que batalhar.
Nash notou que Gau se portava em batalha de forma muito semelhante as criaturas.
"Claro", pensou consigo, "ele cresceu e teve que aprender a se virar nessas terras, deve ter sofrido muito."

Ao final da tarde chegaram a entrada de uma caverna, na encosta da Montanha Crescente. Ao entrarem o menino se abaixou e começou a andar em círculos como se procurasse algo. Nash e Cyan se entreolharam curiosos.
– Cyan – falou Nash baixo. – A coisa brilhante que Gau estava falando, deve estar aqui.
Cyan assentiu com a cabeça.
– Senhor Gau, onde está?
O menino parou, olhou e coçando a cabeça disse:
– Gau... esquecer...
Uma expressão de desanimo tomou conta dos dois.
– Vamos procurá-la? – sugeriu Nash.
– Certamente! – concordou Cyan.
Avançaram caverna adentro em busca da coisa brilhante da qual Gau falara.
Ao chegarem próximos á um grande precipício Gau ficou inquieto.
– Gau, o que houve? – Nash se aproximou da beirada olhando para baixo.
Gau se aproximou por trás e encostou em Nash fingindo que o empurraria, com um pulo Nash se afastou do precipício, porém sua bolsa caiu.
Gau ria.
– Minha bolsa! Eu tinha 500 moedas lá! Ah Gau, seu...
Ao tentar agarrar o garoto, Gau correu para trás de Cyan.
– Oh meu Deus, príncipe Nash, deixe-me tratar disto.
Nash olhou para Cyan, olhou para Gau.
– Argggh! Vamos logo!
Prosseguiram, mas adiante, Gau correu na frente e trouxe um frasco.
– Uma poção?
– Este é o tesouro do senhor Gau?
Gau sacudiu a cabeça.
Andaram pela caverna mais de uma vez, já estavam cansados quando Gau se agitou e começou a cavar o chão.
– Isto que é o tesouro do senhor Gau?
– Tesouro! Sim! Tem mais!
Acompanharam o garoto, que mais a frente desenterrou mais duas coisas, como a primeira.
– Parece um capacete, mas tem um tipo de vidro na frente – comento Cyan.
– O que fazemos com eles? – questionou Nash.
Cyan pegou outro para examinar mais de perto.
– Tive uma ideia! – disse Nash. – Deve dar para respirar debaixo d'água com isto!
Cyan o olhava desconfiado.
– Vamos! – disse Nash empolgado com a sua ideia, partindo para a saída da caverna.
A saída dava para uma série de corredeiras que ficavam a cerca de uns 3 metros abaixo de onde estavam.
– Que correnteza rápida – analisou Cyan, lembrando do ocorrido nas Cataratas de Baren.
– Vamos! Por aqui deve dar para alcançar Nikeah. Se eu ficar aqui, nunca mais verei meus amigos.
Olharam para baixo para analisando a altura. Gau se aproximou, olhou e com um pulo se afastou amedrontado. Nash e Cyan olharam para ele e riram.
– Vamos! – incentivou Nash. – Coloque-o assim em sua cabeça.
Gau hesitou, mas vestiu o capacete.
Cyan e Nash saltaram, enquanto Gau olhava com medo. Mas logo saltou atrás.

*****

De fato a moça do hotel de Mobliz não mentiu, existia um emaranhado de túneis e canais submersos, conhecido como Tuneis da Serpente, que levava até Nikeah. Os três tiveram sorte, pois chegaram à cidade, sendo resgatados pelos trabalhadores do porto.
Nikeah é uma cidade portuária, que ainda não havia sido tomada pelo império. O comércio era a principal renda da cidade. Barcos chegavam e partiam diariamente, lotados de mercadoria.
O único jeito de alcançar Nikeah, sem contar pelos túneis submersos, é através do mar.
Após serem resgatados comeram algo no pub da cidade, onde a dançarina do local puxou conversa com Cyan.
– Olá fofo! Quer dançar comigo?
Cyan ficou desajeitado se afastando da moça.
– Como vos atreveis? Sua dançarina lasciva.
– Céus, calma fofo! – disse puxando-o para perto de si.
Cyan se desvencilhou ainda sem jeito.
– Fofo?
Nash se aproximou do amigo.
– Cyan, calma, vamos embora – disse Nash.
– Pare de sussurrar – disse a moça se aproximando. – Os meus ouvidos estão em fogo para te ouvir.
– Basta! Não tens vergonha? Sou um samurai respeitável.
– Tudo bem – disse a moça seguindo para o balcão, mas sem antes dar uma piscadela para o guerreiro.
Saíram do pub quando ouviram que um barco partiria para Fígaro Sul.
Embarcaram.
– De Figaro Sul para Narshe é um instante. – disse Cyan.
– Espero que tudo esteja bem com meus amigos.
– Tenho certeza de que está tudo bem.
– Gau também achar!

*****

Já era noite quando chegaram ao seu destino.
Sem dinheiro para pernoitarem em Figaro Sul, partiram para Narshe.

Comentários