09. Rumo ao oeste
Já havia amanhecido quando Locke abriu os olhos.
Sentia seu corpo descansado após uma boa noite de sono. Virou-se e viu Celes
parada ao lado de sua cama. Eles estavam na casa de Jun.
– Já acordou? – perguntou a moça.
Ao ver o rosto da moça lembrou-se de tudo que havia
acontecido no dia anterior.
– A Tina?
Celes sacudiu vagarosamente a cabeça.
– Ela transformou-se numa coisa esquisita e voou
para longe – disse séria. – Ela parecia um...
Parou de falar por um instante e prosseguiu.
– Parecia um esper.
Locke piscou tentando entender tudo aquilo.
– Locke, Está bem? – O jovem rei entrou no quarto.
Locke assentiu.
– Acho que sim.
– Aconteceu algo à Tina. Ela parece estar ligada de
alguma forma aos espers.
– Não interessa! Temos que encontrá-la!
– Algumas pessoas dizem que viram algo voar para o
oeste.
– Então vamos! – o rapaz seguiu para a outra sala –
Eu prometi que...
Nash, Cayenne e Gau estavam na sala quando Locke
irrompeu sala adentro.
– Espere – continuou o rei –, vamos pensar! O
império quer o esper...
– E Banon precisa de nossa ajuda aqui... –
completou seu irmão.
– Tens razão, ela é uma ex-soldado do império – Cayenne
pensava alto –, mas mesmo assim temos que ajudá-la.
– Então é isso – Edgar havia se decidido. – Vamos
nos dividir! Um grupo vai procurar pela Tina, enquanto o outro fica aqui para
defender Narshe!
Todos concordaram com o rei.
– O castelo de Figaro pode nos levar para a parte
oeste do continente. Tina deve estar por lá.
– Eu vou! Afinal eu conheço bem aquela área – disse
Locke prontamente.
– Cayenne, você e Gau podem ajudar Banon aqui? –
perguntou Edgar.
– Claro senhor! Protegeremos Narshe contra o
império!
– Cayenne, Gau – disse Nash –, irei com eles.
Ambos assentiram.
Deixaram Narshe logo em seguida, para chegarem o
mais cedo possível a Figaro.
*****
Nash permaneceu inquieto durante toda a viagem,
fazia anos que não entrava no castelo onde passara toda a sua infância.
– Bem vindo de volta senhor! – saudaram os guardas
na entrada do castelo.
Ao alcançarem o pátio o irmão do rei deu uma boa
olhada ao redor.
– Como nos velhos tempos! Vou dar uma volta!
Edgar também não conseguia conter a felicidade que
o envolvia ao ver seu irmão de volta.
Nash percorreu toda a extensão da sala do trono,
olhando com saudosismo todos os detalhes.
– O castelo não mudou muito – uma tristeza tomou o
coração do jovem que sentou-se no trono que um dia seu pai sentara –, porém a
mãe e o pai já morreram e todos os que conhecia já não estão mais aqui.
Lembranças inundavam sua mente. Aquele dia estava
gravado perfeitamente em sua memória.
O médico entrava pela sala do trono para conversar
com o chanceler.
– O estado dele piorou muito... Duvido que consiga
passar dessa noite...
Em seu quarto Aia, a governanta, lhe dava a triste
notícia.
– O rei... morreu....
– Não!!! Pai!!! – Nash saiu correndo pelo seu
quarto com uma dor lacerante em seu coração.
Edgar correu atrás dele.
– Nash! Nash, espere!
No auge da madrugada Nash permanecia no pátio do
castelo olhando para as estrelas com seu rosto molhado pelas lágrimas.
Edgar se aproximou.
– Maldito seja o império! – disse o jovem rangendo
os dentes.
– Então eles te contaram...
Edgar se pôs ao lado do irmão.
– Aí estão vocês... – Aia se aproximou – o último
desejo de seu pai era que Figaro fosse dividida entre vocês dois.
– Que besteira! – indignou-se Nash – Todos sabem
que o império envenenou o pai e a única coisa em que vocês pensam é quem vai
ser o próximo rei? Não acredito!
Ele se ajoelhou.
– Ninguém se importou quando a mãe morreu, depois
que nascemos também...
– Não é verdade... – Aia sabia a dor que o jovem
sentia.
– Você também não sente nada, como todos os outros!
– gritou Nash empurrando a governanta.
– Nash! Calma! – interveio Edgar.
– Império de assassinos! – Nash olhou para o irmão
aguardando sua aprovação. Edgar abaixou a cabeça. – Aqueles assassinos não vão
se safar desta! – gritou o jovem entrando na sala do rei.
– Aia, por favor, deixe-nos a sós – pediu Edgar
seguindo o irmão.
Edgar encontrou o irmão na torre mais alta do
castelo.
– Vamos deixar este lugar! Vamos deixar este
reinado louco! Quero abandonar este castelo pela minha honra e liberdade! –
decidiu Nash – Você também não havia dito que já estava farto disso? Que não
queria ser rei?
– Liberdade... – suspirou Edgar.
– Nash, o que vai acontecer a Figaro se nós dois
partirmos? Não existe ninguém para tomar o trono. Nosso pai estava contando
conosco para cuidar do reino.
Aproximou-se do irmão.
– Vamos fazer o seguinte, vamos atirar essa moeda
que o pai me deu. Cara, você ganha, coroa, eu ganho. O ganhador recebe a
liberdade. Sem arrependimentos... Sem ressentimentos...
Nash acentiu.
– Pelo pai! – disse Edgar ao jogar a moeda.
– E você recebeu sua liberdade...
Assustado Nash olhou para a origem da voz. Edgar
estava ao lado da porta da sala, olhando para o irmão, sentado no trono.
– Já fazem 10 anos. Já não é mais uma criança.
Aquele pequeno camarão se tornou uma lagosta lutadora!
– E olha para você! Um rei caranguejo!
Edgar sentou-se no outro trono, ao lado do irmão.
– Às vezes me pergunto se o pai se orgulharia de
mim.
– Não tenho dúvidas. Tenho certeza de que ele está
orgulhoso, onde quer que ele esteja.
O silêncio dominava toda a extensão da sala.
– 10 anos... – disse Edgar olhando para o vazio no
meio da sala.
– Quanto tempo... – disse Nash com um olhar
perdido.
Edgar se levantou.
– Que dois adultos confusos nos tornamos – Edgar
foi até uma mesinha encheu dois copos, deu um ao seu irmão e levantou o seu
copo brindando – Pelo pai!
Nash levantou-se também e pôs-se ao lado do irmão.
– Pela mãe – disse Nash levantando seu copo também
– E por Figaro!
Ambos tomaram o conteúdo do copo em um único gole.
– Vamos! – disser Edgar, colocando o copo no apoio
do trono – Temos que resgatar a Tina!
– Certo! – concordou seu irmão e, com um último
olhar para trás, deixou a sala do trono.
Juntaram-se a Locke e Celes no patio central. Edgar
os guiou até a sala das máquinas do castelo.
Um homem idoso cuidava das máquinas responsáveis
pela submersão e locomoção subterrânea do castelo.
Edgar pediu para levá-los a Kohlingen, através da
cordilheira que separava o centro do continente das terras a oeste.
O velho pediu a todos que se segurassem e acionou
firmemente a alavanca.
Um grande estrondo tomou conta de tudo durante toda
a viagem, que não demorou muito levando em consideração que todo o castelo
atravessou uma grande distância.
Celes sempre se perguntara como é que era possível
a locomoção sob a terra e aproveitando a oportunidade, perguntou para o velho,
que explicou, falando o mais alto que podia, que só era possível devido à
grande quantidade de areia daquela região, inclusive sob as montanhas, até o
deserto de Kohlingen.
Após chegarem e cessar o barulho, Locke forçou suas
mãos contra usas orelhas para tentar fazer com que o zumbido de sua cabeça
passasse. Não obteve sucesso.
Partiram o mais rápido possível para a cidade, na
intenção de chegarem antes do pôr do sol.
*****
Kohlingen está localizada a noroeste do continente.
É um tanto isolada das demais, visto que a leste existe uma cadeia de montanhas
e a cidade mais próxima, Jidoor, fica muito ao sul, talvez isso explique por
que o império ainda não a tenha alcançado.
Ao entrarem na cidade puderam notar o medo nos
rostos das pessoas, todos falavam de uma criatura branca com olhos vazios,
alguns diziam que era um fantasma, enquanto outros não conseguiam descrever a
criatura que havia destruído uma casa da cidade.
Decidiram que separando-se conseguiriam mais
informações, e assim fizeram.
Uma menina que brincava alegremente, sentimento
este não compartilhado pelas demais pessoas, correu em direção a Celes com uma
flor na mão e lhe ofertou. A moça sorriu e se abaixou para conversar com a
criança.
– Aquela pessoa brilhante! Todos tiveram medo, mas
eu achei ela bonita!
Locke estava mais a frente quando um velho se
aproximou.
– Locke! Quanto tempo! Veio ver Rachel?
Celes, prestando atenção ao velho que conversava
com o ladino, sorriu para a criança e colocou delicadamente a flor sob os
cabelos da menina, que correu novamente ao canteiro de flores.
Enquanto isso, Edgar foi ver o estrago causado por
Tina.
– Aquele monstro luminoso destruiu toda a minha
casa! – lamentava o proprietário.
– Que infelicidade! E para onde essa “criatura”
foi? – se repudiava a usar este termo para indicar a jovem amiga.
– Ela seguiu para o sul, em direção a Jidoor!
Nash foi atrás de mais informações no bar. Ao
encostar-se no balcão o balconista advertiu-o:
– Este lugar é muito mal freqüentado, aquele cara
sentado à mesa é um assassino.
Ambos olharam em direção à mesa, um homem estava
sentado, acompanhado de um cão sentado ao seu lado. Um sorriso surgiu no rosto
de Nash que foi em direção à mesa e puxando uma cadeira disse:
– Como vai? Pode deixar que eu pago a próxima.
Edgar retornou para onde Celes estava, logo Locke
se aproximou.
– O dono da casa disse que Tina foi para o sul, em
direção a Jidoor – contou Edgar –, vou procurar mais pistas.
Quando Edgar se afastou Celes notou uma tristeza
que tomara conta do rosto de Locke após a conversa com o velho.
– Quem é Rachel?
– Alguém que eu deveria ter protegido, mas não
consegui.
– Ela mora aqui?
Locke exitou.
– Venha. Vou te mostrar.
Seguiram cidade adentro até alcançarem uma casa
tomada pelo tempo.
"Vá embora!"... Essa frase ecoava em sua
memória. Fechou o olho por um momento e, após um suspiro, seguiu em frente.
Locke forçou a porta que rangeu diante do peso dos
anos.
– Ela morava aqui...
– Locke, onde vamos?
– Já vai ver! – disse forçando a vista na escuridão
da caverna – Nem vai acreditar! Vale uma fortuna!
Havia uma ponte, feita de cordas e madeira, e,
quando Locke estava na metade da travessia, Rachel notou que uma corda estava
prestes a se romper.
– Locke! Cuidado!
Créditos da imagem: Desconhecido |
Ela correu em direção a Locke e o empurrou para a
segurança da terra firme do outro lado da ponte. Locke caiu a salvo do outro
lado, mas a corda não aguentou e a jovem caiu no precipício.
– Rachel!!!
Sem pensar duas vezes amarrou uma corda e desceu
atrás de sua amada que, por sorte, jazia inconsciente em uma rocha fixa na
parede do precipício.
Rachel se remexeu na cama e virou-se lentamente na
direção de Locke que a observava sentado ao lado da cama.
– Rachel! Acordou?
– Quem... quem é você? – disse a moça sentando-se
na cama – Eu não me lembro de nada.
Toda a canseira daqueles dias de vigília parecem
ter tomado conta do rosto do rapaz, toda a esperança havia se transformado em
exaustão.
O pai da moça não demorou muito para ver a filha e
expulsá-lo de sua casa.
– Suma daqui! Minha filha só está assim por causa
de suas viagens malucas!
– Espere! Ela tinha dito “sim”! Nós íamos nos...
– Vá embora! Não sei quem é, mas sempre que meu pai
te vê ele fica triste! – disse uma voz que Locke conhecia tão bem e com isso a
porta se fechou.
O rapaz continuava olhando para a porta quando um
conhecido se aproximou.
– Quer um conselho camarada? É melhor esquecê-la.
Locke parecia ignorá-lo.
– Locke... Ela não se lembra de nada. O pai dela te
odeia. Se gosta dela, é melhor deixá-la recomeçar a vida...
O “caçador de tesouros” olhou para o homem.
– Tem razão.
– Parecia ser a coisa mais sensata a se fazer,
então deixei a cidade – contava Locke com o coração apertado ao relembrar sua
história, naquela casa, onde havia ficado tantos dias zelando por sua amada,
agora toda empoeirada.
– Um ano depois, quando voltei, soube que Rachel
tinha sido morta pelos soldados do império – pausou a narrativa por um momento,
voltou seu rosto para cama de Rachel, seus olhos pareciam olhar para o nada –
Quando aguardava a morte na cama, ela se lembrou de tudo. A última coisa que
ela disse foi “Se um homem chamado Locke voltar, digam-lhe que eu o amo”. Nunca
devia ter abandonado ela. Eu não consegui protegê-la.
– Sinto muito... – disse Celes com lágrimas nos
olhos – Você devia amá-la muito, não é?
– E como... – respirou fundo – Venha, vamos procurar
os outros.
Ao saírem da casa Locke sugeriu que se separassem
para encontrar Edgar e Nash. Locke foi para leste e pediu para Celes seguir
para o sul da cidade.
O sol já estava baixo quando o rapaz seguiu direto
para uma casa a oeste. Entrou.
– Locke! Há quanto tempo – disse um velho – O seu
tesouro está muito bem guardado, como sempre – gargalhou.
Seguiram para o subsolo da casa, desceram por uma
escada e Locke se aproximou de uma cama, no meio da sala, onde jazia uma bela
moça com longos cabelos negros. Um arrepio percorreu toda sua coluna ao ver
como Rachel estava corada.
– Ela continua bela como no dia em que morreu –
disse novamente antes de outra gargalhada.
Mais lembranças...
– Utilizei algumas plantas para deixá-la em
animação suspensa.
– Obrigado!
– O seu amor vai dormir assim eternamente! –
gargalhou o velho.
– Não existe nenhuma maneira de... ressussitá-la?
– Tenho certeza de que se houver, você vai achá-la!
Edgar colocou a mão em seu ombro e apertou-o.
– Rachel... Não a protegi quando precisou.
Edgar e Celes estavam na sala.
Locke virou-se e se retirou da sala sendo seguido
Edgar. Celes permaneceu por um momento ao lado do leito, olhando como Rachel
estava linda.
Então deixou a sala.
Já estava escuro quando todos rumaram para o hotel
da cidade, encontrando Nash e Shadow.
Já havia amanhecido quando Locke abriu os olhos. Sentia seu corpo descansado após uma boa noite de sono. Virou-se e viu Celes parada ao lado de sua cama. Eles estavam na casa de Jun.
– Já acordou? – perguntou a moça.
Ao ver o rosto
da moça lembrou-se de tudo que havia acontecido no dia anterior.
– A Tina?
Celes sacudiu
vagarosamente a cabeça.
– Ela
transformou-se numa coisa esquisita e voou para longe – disse séria. – Ela
parecia um...
Parou de falar
por um instante e prosseguiu.
– Parecia um
esper.
Locke piscou
tentando entender tudo aquilo.
– Locke, Está
bem? – O jovem rei entrou no quarto.
Locke assentiu.
– Acho que sim.
– Aconteceu algo
à Tina. Ela parece estar ligada de alguma forma aos espers.
– Não interessa!
Temos que encontrá-la!
– Algumas
pessoas dizem que viram algo voar para o oeste.
– Então vamos! –
o rapaz seguiu para a outra sala – Eu prometi que...
Nash, Cyan e Gau
estavam na sala quando Locke irrompeu sala adentro.
– Espere –
continuou o rei –, vamos pensar! O império quer o esper...
– E Banon
precisa de nossa ajuda aqui... – completou seu irmão.
– Tens razão,
ela é uma ex-soldado do império – Cyan pensava alto –, mas mesmo assim temos que
ajudá-la.
– Então é isso –
Edgar havia se decidido. – Vamos nos dividir! Um grupo vai procurar pela Tina,
enquanto o outro fica aqui para defender Narshe!
Todos
concordaram com o rei.
– O castelo de
Figaro pode nos levar para a parte oeste do continente. Tina deve estar por lá.
– Eu vou! Afinal
eu conheço bem aquela área – disse Locke prontamente.
– Cyan, você e
Gau podem ajudar Banon aqui? – perguntou Edgar.
– Claro senhor!
Protegeremos Narshe contra o império!
– Cyan, Gau – disse Nash –, irei com eles.
Ambos assentiram.
Deixaram Narshe
logo em seguida, para chegarem o mais cedo possível a Figaro.
*****
Nash permaneceu
inquieto durante toda a viagem, fazia anos que não entrava no castelo onde
passara toda a sua infância.
– Bem vindo de
volta senhor! – saudaram os guardas na entrada do castelo.
Ao alcançarem o
pátio o irmão do rei deu uma boa olhada ao redor.
– Como nos
velhos tempos! Vou dar uma volta!
Edgar também não
conseguia conter a felicidade que o envolvia ao ver seu irmão de volta.
Nash percorreu
toda a extensão da sala do trono, olhando com saudosismo todos os detalhes.
– O castelo não
mudou muito – uma tristeza tomou o coração do jovem que sentou-se no trono que
um dia seu pai sentara –, porém a mãe e o pai já morreram e todos os que
conhecia já não estão mais aqui.
Lembranças
inundavam sua mente. Aquele dia estava gravado perfeitamente em sua memória.
O médico entrava pela sala do
trono para conversar com o chanceler.
– O estado dele piorou muito...
Duvido que consiga passar dessa noite...
Em seu quarto Aia, a governanta,
lhe dava a triste notícia.
– O rei... morreu....
– Não!!! Pai!!! – Nash saiu
correndo pelo seu quarto com uma dor lacerante em seu coração.
Edgar correu atrás dele.
– Nash! Nash, espere!
No auge da madrugada Nash
permanecia no pátio do castelo olhando para as estrelas com seu rosto molhado
pelas lágrimas.
Edgar se aproximou.
– Maldito seja o império! –
disse o jovem rangendo os dentes.
– Então eles te contaram...
Edgar se pôs ao lado do irmão.
– Aí estão vocês... – Aia se
aproximou – o último desejo de seu pai era que Figaro fosse dividida entre
vocês dois.
– Que besteira! – indignou-se
Nash – Todos sabem que o império envenenou o pai e a única coisa em que vocês
pensam é quem vai ser o próximo rei? Não acredito!
Ele se ajoelhou.
– Ninguém se importou quando a
mãe morreu, depois que nascemos também...
– Não é verdade... – Aia sabia a
dor que o jovem sentia.
– Você também não sente nada,
como todos os outros! – gritou Nash empurrando a governanta.
– Nash! Calma! – interveio
Edgar.
– Império de assassinos! – Nash
olhou para o irmão aguardando sua aprovação. Edgar abaixou a cabeça. – Aqueles
assassinos não vão se safar desta! – gritou o jovem entrando na sala do rei.
– Aia, por favor, deixe-nos a
sós – pediu Edgar seguindo o irmão.
Edgar encontrou o irmão na torre
mais alta do castelo.
– Vamos deixar este lugar! Vamos
deixar este reinado louco! Quero abandonar este castelo pela minha honra e
liberdade! – decidiu Nash – Você também não havia dito que já estava farto
disso? Que não queria ser rei?
– Liberdade... – suspirou Edgar.
– Nash, o que vai acontecer a
Figaro se nós dois partirmos? Não existe ninguém para tomar o trono. Nosso pai
estava contando conosco para cuidar do reino.
Aproximou-se do irmão.
– Vamos fazer o seguinte, vamos
atirar essa moeda que o pai me deu. Cara, você ganha, coroa, eu ganho. O
ganhador recebe a liberdade. Sem arrependimentos... Sem ressentimentos...
Nash acentiu.
– Pelo pai! – disse Edgar ao
jogar a moeda.
– E você recebeu sua liberdade...
Assustado Nash
olhou para a origem da voz. Edgar estava ao lado da porta da sala, olhando para
o irmão, sentado no trono.
– Já fazem 10
anos. Já não é mais uma criança. Aquele pequeno camarão se tornou uma lagosta lutadora!
– E olha para
você! Um rei caranguejo!
Edgar sentou-se
no outro trono, ao lado do irmão.
– Às vezes me
pergunto se o pai se orgulharia de mim.
– Não tenho dúvidas. Tenho certeza de que ele está orgulhoso, onde quer que ele esteja.
O silêncio
dominava toda a extensão da sala.
– 10 anos... – disse
Edgar olhando para o vazio no meio da sala.
– Quanto tempo...
– disse Nash com um olhar perdido.
Edgar se
levantou.
– Que dois
adultos confusos nos tornamos – Edgar foi até uma mesinha encheu dois copos,
deu um ao seu irmão e levantou o seu copo brindando – Pelo pai!
Nash levantou-se
também e pôs-se ao lado do irmão.
– Pela mãe –
disse Nash levantando seu copo também – E por Figaro!
Ambos tomaram o conteúdo do copo em um único gole.
– Vamos! – disser Edgar, colocando o copo no apoio do trono – Temos que resgatar a Tina!
– Certo! – concordou seu irmão e, com um último olhar para trás, deixou a sala do trono.
Juntaram-se a
Locke e Celes no patio central. Edgar os guiou até a sala das máquinas do castelo.
Um homem idoso
cuidava das máquinas responsáveis pela submersão e locomoção subterrânea do
castelo.
Edgar pediu para
levá-los a Kohlingen, através da cordilheira que separava o centro do
continente das terras a oeste.
O velho pediu a
todos que se segurassem e acionou firmemente a alavanca.
Um grande
estrondo tomou conta de tudo durante toda a viagem, que não demorou muito
levando em consideração que todo o castelo atravessou uma grande distância.
Celes sempre se
perguntara como é que era possível a locomoção sob a terra e aproveitando a
oportunidade, perguntou para o velho, que explicou, falando o mais alto que
podia, que só era possível devido à grande quantidade de areia daquela região,
inclusive sob as montanhas, até o deserto de Kohlingen.
Após chegarem e
cessar o barulho, Locke forçou suas mãos contra usas orelhas para tentar fazer
com que o zumbido de sua cabeça passasse. Não obteve sucesso.
Partiram o mais
rápido possível para a cidade, na intenção de chegarem antes do pôr do sol.
*****
Kohlingen está
localizada a noroeste do continente. É um tanto isolada das demais, visto que a
leste existe uma cadeia de montanhas e a cidade mais próxima, Jidoor, fica
muito ao sul, talvez isso explique por que o império ainda não a tenha
alcançado.
Ao entrarem na
cidade puderam notar o medo nos rostos das pessoas, todos falavam de uma
criatura branca com olhos vazios, alguns diziam que era um fantasma, enquanto
outros não conseguiam descrever a criatura que havia destruído uma casa da
cidade.
Decidiram que separando-se conseguiriam mais informações, e assim fizeram.
Uma menina que
brincava alegremente, sentimento este não compartilhado pelas demais pessoas,
correu em direção a Celes com uma flor na mão e lhe ofertou. A moça sorriu e se
abaixou para conversar com a criança.
– Aquela pessoa
brilhante! Todos tiveram medo, mas eu achei ela bonita!
Locke estava
mais a frente quando um velho se aproximou.
– Locke! Quanto
tempo! Veio ver Rachel?
Celes, prestando
atenção ao velho que conversava com o ladino, sorriu para a criança e colocou
delicadamente a flor sob os cabelos da menina, que correu novamente ao canteiro
de flores.
Enquanto isso, Edgar foi ver o estrago causado por Tina.
– Aquele monstro
luminoso destruiu toda a minha casa! – lamentava o proprietário.
– Que
infelicidade! E para onde essa “criatura” foi? – se repudiava a usar este termo
para indicar a jovem amiga.
– Ela seguiu
para o sul, em direção a Jidoor!
Nash foi atrás
de mais informações no bar. Ao encostar-se no balcão o balconista advertiu-o:
– Este lugar é
muito mal freqüentado, aquele cara sentado à mesa é um assassino.
Ambos olharam em
direção à mesa, um homem estava sentado, acompanhado de um cão sentado ao seu
lado. Um sorriso surgiu no rosto de Nash que foi em direção à mesa e puxando
uma cadeira disse:
– Como vai? Pode
deixar que eu pago a próxima.
Edgar retornou
para onde Celes estava, logo Locke se aproximou.
– O dono da casa
disse que Tina foi para o sul, em direção a Jidoor – contou Edgar –, vou procurar mais pistas.
Quando Edgar se
afastou Celes notou uma tristeza que tomara conta do rosto de Locke após a
conversa com o velho.
– Quem é Rachel?
– Alguém que eu
deveria ter protegido, mas não consegui.
– Ela mora aqui?
Locke exitou.
– Venha. Vou te
mostrar.
Seguiram cidade
adentro até alcançarem uma casa tomada pelo tempo.
"Vá embora!"... Essa frase ecoava em sua memória. Fechou o olho por um momento e, após um suspiro, seguiu em frente.
Locke forçou a porta que rangeu diante do peso dos anos.
– Ela morava
aqui...
– Locke, onde vamos?
– Já vai ver! – disse forçando a
vista na escuridão da caverna – Nem vai acreditar! Vale uma fortuna!
Havia uma ponte, feita de cordas e madeira, e, quando Locke estava na metade da travessia, Rachel notou que uma corda estava prestes a se romper.
– Locke! Cuidado!
Ela correu em direção a Locke e o empurrou para a segurança da terra firme do outro lado da ponte. Locke caiu a salvo do outro lado, mas a corda não aguentou e
a jovem caiu no precipício.
– Rachel!!!
Sem pensar duas vezes amarrou
uma corda e desceu atrás de sua amada que, por sorte, jazia inconsciente
em uma rocha fixa na parede do precipício.
*****
Rachel se remexeu na cama e
virou-se lentamente na direção de Locke que a observava sentado ao lado da
cama.
– Rachel! Acordou?
– Quem... quem é você? – disse a
moça sentando-se na cama – Eu não me lembro de nada.
Toda a canseira daqueles dias de
vigília parecem ter tomado conta do rosto do rapaz, toda a esperança havia se
transformado em exaustão.
O pai da moça não demorou muito
para ver a filha e expulsá-lo de sua casa.
– Suma daqui! Minha filha só
está assim por causa de suas viagens malucas!
– Espere! Ela tinha dito “sim”!
Nós íamos nos...
– Vá embora! Não sei quem é, mas
sempre que meu pai te vê ele fica triste! – disse uma voz que Locke conhecia
tão bem e com isso a porta se fechou.
O rapaz continuava olhando para
a porta quando um conhecido se aproximou.
– Quer um conselho camarada? É
melhor esquecê-la.
Locke parecia ignorá-lo.
– Locke... Ela não se lembra de
nada. O pai dela te odeia. Se gosta dela, é melhor deixá-la recomeçar a vida...
O “caçador de tesouros” olhou
para o homem.
– Tem razão.
– Parecia ser a
coisa mais sensata a se fazer, então deixei a cidade – contava Locke com o coração
apertado ao relembrar sua história, naquela casa, onde havia ficado tantos dias zelando por sua amada, agora toda empoeirada.
– Um ano depois,
quando voltei, soube que Rachel tinha sido morta pelos soldados do império –
pausou a narrativa por um momento, voltou seu rosto para cama de Rachel, seus
olhos pareciam olhar para o nada – Quando aguardava a morte na cama, ela se
lembrou de tudo. A última coisa que ela disse foi “Se um homem chamado Locke
voltar, digam-lhe que eu o amo”. Nunca devia ter abandonado ela. Eu não
consegui protegê-la.
– Sinto muito... –
disse Celes com lágrimas nos olhos – Você devia amá-la muito, não é?
– E como... –
respirou fundo – Venha, vamos procurar os outros.
Ao saírem da
casa Locke sugeriu que se separassem para encontrar Edgar e Nash. Locke foi
para leste e pediu para Celes seguir para o sul da cidade.
O sol já estava
baixo quando o rapaz seguiu direto para uma casa a oeste. Entrou.
– Locke! Há
quanto tempo – disse um velho – O seu tesouro está muito bem guardado, como
sempre – gargalhou.
Seguiram para o
subsolo da casa, desceram por uma escada e Locke se aproximou de uma cama, no
meio da sala, onde jazia uma bela moça com longos cabelos negros. Um arrepio
percorreu toda sua coluna ao ver como Rachel estava corada.
– Ela continua
bela como no dia em que morreu – disse novamente antes de outra gargalhada.
Mais
lembranças...
– Utilizei algumas plantas para
deixá-la em animação suspensa.
– Obrigado!
– O seu amor vai dormir assim
eternamente! – gargalhou o velho.
– Não existe nenhuma maneira
de... ressussitá-la?
– Tenho certeza de que se
houver, você vai achá-la!
Edgar colocou a
mão em seu ombro e apertou-o.
– Rachel... Não
a protegi quando precisou.
Edgar, Nash e
Celes estavam na sala.
Locke virou-se e
se retirou da sala sendo seguido por Nash e Edgar. Celes permaneceu por um
momento ao lado do leito, olhando como Rachel estava linda.
Então deixou a
sala.
Já estava escuro
quando todos rumaram para o hotel da cidade.
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